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“TUDO À MINHA VOLTA AGORA TEM RELEVÂNCIA” | HIKE FALA DE SEU NOVO PROJETO DE FOTOGRAFIA

“TUDO À MINHA VOLTA AGORA TEM RELEVÂNCIA” | HIKE FALA DE SEU NOVO PROJETO DE FOTOGRAFIA

“DÁ PRA FAZER UNS RETRATOS LEGAIS COM UMA CYBERSHOT, QUE CUSTA, SEI LÁ, R$150, R$200. E NÃO COM UMA DSLR QUE É MUITO CARA E INACESSÍVEL.”

Trocamos uma ideia com o Hike, artista visual, que está lançando seu projeto de fotografia em Cybershots.

Como começar esse texto sem puxar saco? Não faço ideia. Mas vai ser difícil falar do Hike sem pensar no meu ex-aluno e amigo, Henrique. Conheci o Henrique quando estava como coordenador das produções do laboratório de comunicação de uma faculdade aqui de Vitória. Ele foi meu aluno no núcleo de Audiovisual. Logo na primeira semana, ainda meio bicho, vindo da Bahia, trouxe uma ideia simples, mas sensacional – assim como sua fotografia. Henrique, junto com a equipe do programa, resumia as notícias da semana do seu jeito, com sua maneira de falar e de contar histórias. 

Caliari e Henrique no estúdio da faculdade

Algum tempo depois, fomos cobrir o BKDP Festival, festival de música preta que aconteceu aqui no ano passado. Henrique, agora já se transformando em Hike, me pediu “pô, posso tentar tirar umas fotos?”. Mal sabia eu o monstro que eu estaria criando. A partir dali, Hike virou um viciado em fotografia. Pegava a câmera na faculdade pra tirar fotos nos corredores. Me mandava vídeo no TikTok com dicas de fotografia. Sempre perguntava “tá legal essa aqui?” ou mostrava “pô, eu gosto mais dessa vibe e tal”. Ele começou a experimentar a fotografia no estúdio e, dali, não teve volta. Foi melhorando sua composição, achando o seu jeito de retratar as pessoas – e teve certeza que era um artista quando não conseguiu fotografar direito pessoas que o tratavam como um registrador. 
Quando saí do emprego na faculdade e decidi me dedicar mais ao CACO, carreguei Hike comigo. Esse papo, que você já vai conferir, rolou um pouco depois dele fotografar o TENDA.Lab com a gente – e onde começou o seu projeto de Cybershots. 


CACO: como foi o seu primeiro contato com a fotografia? O que te despertou esse interesse?
Hike: Na verdade, o primeiro contato vem da minha infância. Meu pai era fotógrafo e aí sempre nos momentos que eu tava com ele, ele tava com uma câmera fotografando. Mas eu era muito pequeno, então naquela época eu não tinha ciência do tipo… peguei gosto. Não quis levar mais a sério desde pequeno, sabe? De ir fotografando e aprendendo. E também meus pais sempre foram muito de boa, então nunca me forçaram a me fazer nada, tipo, seguir o caminho, sabe? 
Então o primeiro contato que eu tive de verdade mesmo foi no segundo período da faculdade, que eu tive a matéria de fotografia. e aí eu comecei a me interessar. Uma parada que, tipo, me pegou muito, foi que eu sempre gostei muito de música. E eu comecei a estudar fotografia musical. Conheci ela na matéria de fotografia, fui estudando, fui conhecendo vários fotógrafos que são muito fodas e que eu tenho de referência máxima até hoje. E fui vendo que pela minha paixão por música eu poderia tá no palco. Só que de uma maneira completamente diferente, sabe? Da minha maneira. De eternizar aquele momento ali, do cantor, da expressão, todo esse rolê da música, sabe? Congelar aquilo ali, poder me expressar pela câmera. Igual um cantor tem seu microfone, eu tenho a câmera. Igual um pintor tem um pincel, eu tenho a câmera. E foi aí que meu interesse aumentou ainda mais e eu virei obcecado. Comecei a estudar, estudar e estudar.


CACO: o que você busca retratar com esse projeto específico da cybershot?
Hike: Quando eu era pequeno meu pai me deu uma Cybershot. Então eu tenho um carinho por ela e acho muito legal. A princípio eu foco em duas coisas: a primeira é ter uma vibe mais tranquila, mais de boa dos artistas, sabe? Ali no backstage, ali no camarim… é algo com menos pressão do que você entrar no camarim do artista com uam dslrzona com um flash gigante. Tipo, preciso tirar uma foto e a pessoa já olha pensando ‘a foto vai sair em um lugar tipo jornal, algo gigantesco’. E aí com a cybershot eu entro de boa, troco ideia, a galera acha interessante, sabe? E é outro ponto que eu vi que é legal, que é o fato de mostrar que dá pra fazer uns retratos legais com uma cybershot, que custa, sei lá, r$150, r$200. E não com uma DSLR que é muito cara e inacessível.

Hike: A fotografia no brasil não é democrática e é muito caro pra você comprar os equipamentos. Eu passo por isso agora. E com a cybershot eu consigo fazer essas paradas também, não gastando muito. Então mostrar pras pessoas que às vezes tem em casa essa câmerazinha, ou consegue achar em algum marketplace usadinha num preço legal, que a pessoa consegue. Não consegue, tipo, fotografar um evento com uma Cybershot, mas ela consegue fazer um rolê com uns amigos delas e fotografar – tipo, sempre que eu vou pro rolê eu levo a minha e faço umas fotos iradas com meus amigos. Eles gostam muito. E fica uma vibe legal. E aí, tipo, eu fui trocar ideia com os artistas e fica uma vibe maneira com a cybershot, sabe? Fica algo mais leve. E mostra que você pode ir ganhando um espaço mostrando a sua arte, a sua visão, com uma câmera “amadora”, de 10, 12, 13 anos atrás.

CACO: como é tá cara a cara com os artistas? Qual a reação deles quando você chega com a cybershot?
Hike: A parte de ficar cara a cara com eles eu acho muito foda. Porque muitas vezes é, tipo, artista que eu ouço, que eu conheço desde moleque, sabe? Desde adolescente. Então ainda é meio mágico, tá ligado? É da hora. Ainda mais quando eles também te tratam de igual como artista. Isso é muito foda. E a reação é sempre legal. Porque é diferente. Todo mundo entra com uma DSLR grandona e aí você chegar lá com uma Cybershotzinha pequenininha e fala “po, tenho um projeto e tals e é fotografia com a Cybershot” e eles não debocham, eles acham legal. Eles acham interessante. Tanto que quando eu entrei pra tirar a foto da Leci Brandão, a Leci olhou e falou “nossa mas você tem uma câmera grandona e vai tirar com essa pequenininha?”. E aí eu tive que explicar pra Leci Brandão a técnica, o que eu queria, como ficavam as fotos e ela gostou! Então às vezes tem essa quebra. Porque sai um fotógrafo com uma câmera enorme, flash, bastão de led, e entra eu, com uma cybershot, uma câmera digital.

CACO: como você enxerga a sua própria fotografia? Como você se sente ao fotografar e o que você quer passar com ela?
Hike: Eu enxergo a minha fotografia, que é mais de show e rua, sendo simples. Se eu posso definir, é algo simples, principalmente a de rua. Meio que retratar o dia a dia mesmo. Eu gosto muito desse rolê. Quando eu comecei a estudar e comecei a amar a fotografia, toda hora que eu to andando na rua eu tô, na verdade, fotografando. Eu não olho mais pras coisas como se fosse irrelevante, sabe? Tudo à minha volta agora tem relevância porque agora eu to sempre fotografando na minha cabeça. Então retratar os pequenos detalhes, as coisas mais simples, mas que impactam, faz com que minha fotografia seja mais simples. Sem muita coisa, sabe? 

Hike: Quando eu tô fotografando, principalmente música, eu penso naquele sonho de moleque. De viver de música, de tá no palco. E eu sinto que isso tá se realizando, isso tá acontecendo. Então parece que tudo some ao meu redor, tá ligado? Parece que todas as dificuldades vão embora e que é aquilo: eu nasci pra fazer isso e não tem outra coisa. Eu to no lugar certo, na hora certa. Eu devia tá aqui. tudo aconteceu pra eu tá aqui nesse momento. É sempre assim: um friozinho na barriga, penso ‘será que vai dar?’. E aí eu tiro o primeiro clique e penso “mano, é isso. Não tem como dar errado”. É isso que eu sinto. E o que eu quero transmitir é essa vibe. Sem muito equipamento, que é um grande debate. Mas eu quero que as pessoas se sintam bem, que elas olhem e gostem, e que consigam sentir o que eu quero expressar, sabe? Acho que é o mais importante. As pessoas receberem a foto e olhar com carinho. 

CACO: você fala que você tá realizando um sonho de criança. Mas e hoje? Onde você quer chegar?
Hike: Meu sonho? Eu quero tá engajado, reconhecido na cena. Principalmente do rap, trap, da música no geral, mas mais especificamente nesse estilo. Com essa galera! Fazer capa de álbum, de single, sair em turnê com os caras fotografando. É o que eu quero, tá ligado? Essa é a meta. É um dia poder sentar na mesa com os caras da fotografia que eu olho e falo ‘mano…’ e os caras me tratarem de igual. Falarem ‘po seu trabalho é muito foda!’ Ouvir isso de alguém da fotografia que eu, porra, admiro pra caralho. Por exemplo, não posso deixar de citar, trocar uma ideia com o Wilmore, tá ligado? Trocar uma ideia com ele, trampar junto com ele, fazer as coisas com ele. Isso tudo tá no pacote do que eu quero, entendeu? Ser reconhecido. Não fama, mas reconhecimento. De chegar num rolê com essa galera, desse universo, e os caras falarem tipo ‘po aquele moleque ali tira umas fotos muito foda’. É isso que eu quero, é isso que eu almejo pros próximos anos sabe. Tá desenvolvido nessa cena, tá ligado? Respeitado, ganhando meu espaço, colocar minha estética e minha arte, minha expressão, meu jeito de ver as coisas e que a galera goste disso e simpatize. Todo esse conjunto. Tudo isso vai junto do trocar ideia com os caras fodas, trampar junto com os caras fodas. Trampar com marcas fodas. E que tenham a ver com a cultura do rap, do trap. É isso que eu almejo pra mim, que eu me vejo. 


CACO: como seria a mesa de bar ideal do seu futuro, então? Você e mais quem?
Hike: risos Com certeza, mano, já é uma parada mais viajada, né? Uma mesa de bar. risos Eu, óbvio, o Adam DeDross, que é o fotógrafo do Post Malone e já foi do Lil Peep também. Um cara que eu admiro muito porque eu também acho a fotografia dele simples, sabe? Quando eu falo simples não é tipo que ela não tem nada demais, mas que ela é muito foda sem você precisar manipular a imagem. Muito foda. Com certeza, mano, o Wilmore, tá ligado? Sem dúvidas. Acho que, deixa eu ver… a Pam Martins também. Ela é uma fotógrafa muito foda. Faz trabalho pra um monte de gente grande. Quem mais, mano? Cara acho que eu vou citar essa galera pra mesa de bar não ficar muito grande. 

CACO: senão nem dá pra conversar muito, né?
Hike: Vou botar também o Kira, que eu acho muito foda. Acho a estética dele parece muito com a minha. A do Wilmore e a dele são muito parecidas comigo, até de roupa, do jeito de me vestir. Então são caras que eu queria muito trocar uma ideia. Acho muito foda, mano. 

CACO: pra terminar o papo, esse projeto com a cybershot, você pretender transformar ele em algo físico? Um livro, um zine, uma exposição?
Hike: Ah, tipo. Ainda não pensei tanto nesse rolê porque ainda tá mais pro começo. Mas às vezes um livrinho assim, pequeno, contando um pouco daquele artista e algo dele que me impacta, sabe? Acho que talvez possa ser algo legal, entendeu? Uma exposição também, po, seria legal. Geralmente a galera faz uma exposição de algo mais documental, mais de rua. Então uma exposição dessa, com os artistas, po, conseguir a presença de alguns no rolê, ficaria algo foda. Da hora também. 

Hike no Tenda.Lab
Foto: Caliari

CACO: quer deixar algum recado pra galera?  
Hike: Deixa eu pensar num recadinho aqui porque essa foi surpresa. Você me pegou desprevenido nessa, porra. risos
CACO: fala pra quem tá começando, igual você, pra quem tem interesse em fotografia. 
Hike: Na fotografia, acho que na arte, em geral, você não vai conseguir chegar longe sozinho, tá ligado? E é muito bom olhar pro lado e ver que você não tá só. Que você tá com pessoas ao seu redor que te apoiam, principalmente. Então acho que você se cercar dos amigos, pessoas que estão te apoiando, da família, pra você seguir esse caminho, vai te ajudar bastante. E acho que… não se preocupa em ajoelhar e se humilhar pra tentar fazer algo. Faz seu trabalho, tá ligado? Faz o que você consegue. Dedica. Estuda. Corre atrás, não deixa de correr atrás, dentro dos seus limites, óbvio. Mas saiba que, tipo assim, mano, faça um trampo foda. Independentemente se você ta fazendo de graça ou se você ta recebendo pra fazer. Faz algo foda, mano. Porque se as pessoas te ignoram, não abrem tanto as portas, se você fizer um trabalho muito foda elas não vão conseguir te ignorar. Vai ser impossível te ignorar. Isso eu falando com quem tá agora se encaixar em algum rolê pra fotografar e tem essa parada, real, que as pessoas meio que barram quem não tem muito portfólio. Só dedica no seu corre. Coloca o seu trampo, sua arte, sua visão das coisas, sua edição de imagem, sua composição, tá ligado? Entenda também que não existe concorrência na arte, tem espaço pra todo mundo. Então não começa a criar umas noias de “fulano é mais artista que eu, fulana é mais isso que eu” porque não existe competição dentro da arte. Se tem algum fotógrafo, algum músico, alguém que cria implicância com você, é porque o cara não é artista. O cara vende o trampo dele e só. Quando você é artista, você não tem problema com outros artistas. Porque arte é identificação. 

O projeto do Hike de Cybershots ainda tá rolando e, como ele mesmo disse, é um prazer apoiar e dar suporte à esse artista e pessoa tão incrível. Assim como ele se sente ao ver e fotografar artistas que ele curtia quando era moleque, é mágico acompanhar a sua evolução e vê-lo alcançando espaços porque as pessoas gostam do seu olhar, do seu jeito de retratar as emoções.

Para acompanhar de perto o trabalho do artista visual Hike, é só segui-lo no Instagram.

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About Author

fecaliari

Nascido em Cachoeiro com verões em Marataízes, carnavais em Piúma e novas raízes em Vitória. Apaixonado por música e cinema. Publicitário especialista em Conteúdo e idealizador do CACO.